Como também prometido anteriormente, este "post" é dedicado às coisas boas que Malhada Sorda também tem. Ou teve. Ou também já tem.
Na verdade, algo desde sempre Malhada Sorda tem: a hospitalidade e a esmerada arte de bem receber - "mi casa es tu casa". Em poucos lugares deste mundo pude constatar a sensação do acordar pela manhã e ver as escadas repletas de ofertas, anónimas, ao mais perfeito estilo "anti-farisaico". O que importa é dar, não deixar cartão. Desde as batatas ao leite, aos ovos, aos repolhos, enfim, a toda a sorte de bens que são deste modo partilhados.
Poder-se-ia, a um outro nível, falar da tradição da olaria e da tecelagem, infelizmente quase desaparecidas dos misteres actuais. Da mesma forma que se poderia falar na presença religiosa na povoação, com mais de cinco séculos de testemunhos, e cujas marcas e legados ainda hoje tão bem patentes se encontram, quer nas manifestações públicas da religiosidade quer no património, ambos mais ou menos "sui generis", mais ou menos valorizados, sociologicamente falando.
Poder-se-ia de igual modo falar no Centro de Bem-Estar Social, vulgo "patronato", na incomensurável obra feita em torno da 1ª e da 3ª idades, ao longo de mais de meio século, e já referenciada em múltiplos escritos.
Poder-se-ia falar do ar puro que ainda aí se respira, inspirador como em poucos lugares. Aquela sensação de carregamento completo de energia, quase mágica, com um simples exercício de respiração mais profunda ao chegar ao "Picoto"...
Mas, neste "post" em particular, gostaria de falar-vos da "estrada do meio" - prometo que ainda vou descobrir qual o nº -, aquela que, sob inspiração em Fernando Pessoa, liga "nada" a "coisa nenhuma". Na realidade, recordo bem que não há tantos anos como isso, entrar nesta estrada era uma verdadeira aventura. O alcatrão era escasso; anos houve em que a recordo como um rendilhado de buracos traiçoeiros e montes de pedras; a largura estreita, e ainda que maioritariamente distribuída por rectas, ao chegarmos àquela ponte sobre a ribeira, deparávamos com uma espécie de cotovelo a proporcionar quase que um "divertimento nacional", na devida escala local, arriscado, sim, o da "pontaria à ponte"...
Hoje, este quadro é apenas uma memória algo difusa. Aliás, estou a ser injusta ao empregar a palavra "hoje", dado que a "nova estrada" já terá um bom par de anos. Lembro-me da enorme surpresa de quando a atravessei pela primeira vez, ainda um pouco a medo... Parecia não pertencer àquele lugar, de tão grandiosa. Mais ainda, se pensarmos que as duas outras estradas que ligava, e liga, também já não eram nada famosas na altura, sendo que a de Vilar Formoso, que creio até ser uma estrada nacional, está hoje num estado tal que já merecia especial atenção.
Por tudo isto, e pela pontinha de nostalgia da "pontaria à ponte", aqui fica uma homenagem, diferente, àquela estrada, da qual ainda vou saber o nº, mas que para já aqui fica como a que liga "nada a coisa nenhuma".
Trata-se da 2ª parte de um registo que contempla a travessia das três estradas que, de Norte, servem Malhada Sorda, mas pelas supra citadas razões, esta "viagem" por aqui se inicia. As restantes ficam prometidas para muito em breve... e depois de falarmos sobre uma outra coisa, magnífica, que Malhada Sorda se prepara para ter, também muito em breve........