sexta-feira, 11 de setembro de 2009

11 de Setembro de 2001



Estava na Malhada naquele dia, quando, pela hora do almoço, todos os jornais televisivos nos entraram casa adentro com as imagens de uma das maiores e mais incompreensíveis tragédias dos tempos modernos.
Confesso que a minha primeira reacção foi pensar "mais um americano maluco que se espatifou contra a torre na sua avioneta". Em poucos segundos, a realidade foi-se revelando mais assustadora, sobretudo com as imagens do embate contra a segunda torre. E depois, aquela indescritivel sensação aquando da ruina dos edifícios. Pela forma e pelo símbolo. O World Trade Centre era um dos ícones americanos da Liberdade, transformado em pó, assim, daquela maneira, quase que num estalar de dedos.
Claro que todo o resto do dia, da noite, e dos dias seguintes, passeio-os praticamente colada à televisão. Um êxtase de comunhão universal, mas pelas piores razões.
Três anos mais tarde, visitei o local, ainda uma enorme cratera, apesar de toda a limpeza heroicamente feita de toda aquela área. Mas, o que mais me impressionou, não foi o que vi. De certa forma, as imagens da tragédia que foram passando funcionaram como um antídoto para o choque do estar ali, naquele mesmo sítio, onde todo aquele horror tinha acontecido.
O que mais me chocou foi o cheiro. Um cheiro misturado de odores de queimado, de ferro quente, de fuligem, de gordura, de cabelo, e outros compostos que não sei explicar. Um cheiro de raiva, de ódio, de desespero e de resignação. Um cheiro que nos atinge e se nos entranha como uma bala perfurante e assim fica guardado no nosso arquivo sensorial. Um cheiro que permaneceu, pelo menos até essa altura, durante três anos.
O mesmo cheiro, o mesmíssimo, que encontrei impregnado em Auschwitz, anos antes, e que aí permanece, indefectível, passadas mais de seis décadas dessa outra atrocidade.
Oito anos depois daquele 11 de Setembro, o nó continua na garganta. Teorias sobre o que aconteceu há muitas nesta história; mãos limpas, nenhuma. Mas a memória, desta como de outras tragédias, não se poderá jamais apagar.

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